Filho de caboclos, Cezário Agostinho
da Silva nasceu em Guaratuba em 1932.
Ele era o quarto filho, de uma família com oito irmãos. Em situação de extrema
pobreza, viviam da pesca e moravam em um ranchinho feito de palha de sapé, de
chão batido e camas improvisadas, confeccionadas com pedaços de galhos trazidos
pela maré, cobertos por uma esteira, que servia de colchão.
Seu Cesário relatou certa vez que
“naquele tempo era difícil de viver”, principalmente porque o mundo estava em
plena Segunda Guerra Mundial. Sem comunicação, todos viviam com muito medo.
Alguns chefes de família chegavam a dormir fora de casa, por temerem ataques
noturnos.
Aos oito anos, Cesário ficou
órfão de pai e a situação ficou ainda mais complicada. Nessa ocasião, seu irmão
mais novo tinha apenas 23 dias. A vida continuou com muito esforço, com sua mãe
e seus irmãos vivendo exclusivamente da pesca.
MATINHOS, A ESPERANÇA DE UMA VIDA
MELHOR
Em 1946, com apenas 14 anos, Cesário
veio para Matinhos. Em seguida vieram seus irmãos, sua mãe e seu padrasto. A
princípio se hospedaram na residência de parentes. Meses após, passaram a morar
em uma pequena casa de madeira, cedida por Máximo da Silva Ramos, que se tornou
grande amigo da família.
Posteriormente, construíram um
rancho na Prainha, onde continuaram a lida, vivendo da prática pesqueira. Seu
Cesário sempre contava que no primeiro ano, a pesca foi ruim e deixando todos
desanimados com o lugar. Mas em 1949 houve abundância de peixes e resolveram se
fixar.
Durante todo o ano pescavam
variedade de tipos de peixe. Entretanto, a época dos melhores negócios era no
início do inverno, quando chegavam os cardumes de tainhas.
Sempre dedicado e trabalhador,
Cesário não recusava serviços. Em 1953, trabalhou na construção da ponte da
Prainha, obra que levou cerca de dois anos para ficar pronta.
A FAMÍLIA PASSOU POR DIFICULDADES
Aos 22 anos, Cesário conheceu
Maria de Lourdes Gomes Silva. Ela tinha apenas 14 anos e o encontro aconteceu
em um baile de carnaval, promovido pelos pais dela. Depois de algum tempo de
namoro, o casamento realizou-se em março de 1955. O casal teve seis filhos:
Maria Lúcia, Vanda, Marineide, Tânia, Nereu e Cézar.
Segundo relatos o casal
atravessou um momento de muita tristeza, quando Cezário teve varíola e precisou
ficar 30 dias deitado e enrolado em folhas de bananeiras. A febre era muito
alta deixando seu corpo em carne viva. Já em Dona Maria as “bexigas pretas” se
manifestaram em menor número. Mas como estava grávida de oito meses, a doença
atingiu a criança, que nasceu morta. Na época só puderam contar com a ajuda dos
amigos pescadores, que não deixaram sua família perecer.
MISSÃO: SALVA-VIDAS
No início de dezembro de 1959,
Cesário foi chamado pela Secretaria do Interior e Justiça (atual Secretaria de
Segurança Pública do Estado) para atuar como guarda-vidas. A indicação partiu
de seus colegas que já exerciam o cargo, por ser pescador destemido, conhecedor
do mar, ter porte físico e boa saúde. Nesta época, esses profissionais eram
subordinados ao delegado da Polícia Civil.
Cesário atendeu prontamente ao
convite, tornando-se o quarto guarda-vidas de Matinhos. Ele desempenhou a função
com comprometimento e presteza durante 17 anos onde realizou inúmeros casos de
salvamento. Como pescador enfrentava mar bravo. Mas como guarda-vidas o serviço
também era perigoso. Contudo, no tempo em que exerceu a função, durante seus
expedientes, não pereceu uma vida sequer. Sendo um triunfo que carregou para o
resto de sua vida.
Em 1979, passou a atuar na
Delegacia de Matinhos, como agente de segurança. Após dois anos, foi remanejado
para a Secretaria de Educação e Cultura, passando a prestar serviços no Colégio
Gabriel de Lara como inspetor e responsável pela manutenção da instituição.
AMOR PELA PESCA
Seu Cesário era exemplo nesta profissão
de quem travou uma luta diária com o mar em busca do pescado. Como ele sempre
dizia “Meu amor pela pesca começou desde que tinha apenas oito anos e precisava
ajudar minha mãe”.
Ele contava com orgulho que foi
contribuinte da Colônia dos Pescadores por aproximadamente 40 anos e relatava
vários fatos do tempo em que era pescador profissional. Com embarcação a remo,
saía cedo com seus colegas de profissão para alto-mar. Eles só voltavam após
várias horas em busca do produto do seu trabalho. Usavam uma vela confeccionada
com três mastros e uns 10 ou 12 sacos de farinha. Com o vento do oceano
soprando em direção à praia, ficava mais fácil direcionar o barco para o lugar
almejado, a necessidade da pressa se dava, principalmente, porque o pescado
precisava ser vendido no dia, pois não havia refrigeração.
Outro acontecimento que marcou a vida de Cesário foi uma
grande pesca realizada em 1968. No qual o cardume era tão grande que em uma só
‘redada’ capturaram quase sete mil tainhas. No final daquele dia, contaram um
total de 8200 peixes.
São muitas as histórias que foram
contadas por esse simpático pescador, amante do mar e dos serviços prestados à
comunidade de Matinhos.
Religioso, remetia a Deus tudo o
que conquistou. Como ele mesmo relatava emocionado, “Só tenho a agradecer às
pessoas que fizeram e fazem parte da minha vida. Considero-me um homem rico,
porque tenho uma família unida e muitos amigos que fazem minha vida feliz”. Seu
Cesário Agostinho da Silva faleceu no dia 17 de Outubro de 2013 e está
sepultado no Cemitério Municipal de Matinhos.
Colaboração: Jornal da ACIMA - Associação Comercial e Industrial de Matinhos
Colaboração: Jornal da ACIMA - Associação Comercial e Industrial de Matinhos
Um homem abençoado que deixou muitos exemplos bons... Mas que também deixou muitas saudades!
ResponderExcluirCamila - Gtba