sexta-feira, 6 de março de 2015

NOME DO POSTO RODOVIÁRIO: QUEM FOI CESÁRIO AGOSTINHO DA SILVA

Filho de caboclos, Cezário Agostinho da Silva nasceu em Guaratuba  em 1932. Ele era o quarto filho, de uma família com oito irmãos. Em situação de extrema pobreza, viviam da pesca e moravam em um ranchinho feito de palha de sapé, de chão batido e camas improvisadas, confeccionadas com pedaços de galhos trazidos pela maré, cobertos por uma esteira, que servia de colchão.
Seu Cesário relatou certa vez que “naquele tempo era difícil de viver”, principalmente porque o mundo estava em plena Segunda Guerra Mundial. Sem comunicação, todos viviam com muito medo. Alguns chefes de família chegavam a dormir fora de casa, por temerem ataques noturnos.
Aos oito anos, Cesário ficou órfão de pai e a situação ficou ainda mais complicada. Nessa ocasião, seu irmão mais novo tinha apenas 23 dias. A vida continuou com muito esforço, com sua mãe e seus irmãos vivendo exclusivamente da pesca.

MATINHOS, A ESPERANÇA DE UMA VIDA MELHOR
Em 1946, com apenas 14 anos, Cesário veio para Matinhos. Em seguida vieram seus irmãos, sua mãe e seu padrasto. A princípio se hospedaram na residência de parentes. Meses após, passaram a morar em uma pequena casa de madeira, cedida por Máximo da Silva Ramos, que se tornou grande amigo da família.
Posteriormente, construíram um rancho na Prainha, onde continuaram a lida, vivendo da prática pesqueira. Seu Cesário sempre contava que no primeiro ano, a pesca foi ruim e deixando todos desanimados com o lugar. Mas em 1949 houve abundância de peixes e resolveram se fixar.
Durante todo o ano pescavam variedade de tipos de peixe. Entretanto, a época dos melhores negócios era no início do inverno, quando chegavam os cardumes de tainhas.
Sempre dedicado e trabalhador, Cesário não recusava serviços. Em 1953, trabalhou na construção da ponte da Prainha, obra que levou cerca de dois anos para ficar pronta.

A FAMÍLIA PASSOU POR DIFICULDADES
Aos 22 anos, Cesário conheceu Maria de Lourdes Gomes Silva. Ela tinha apenas 14 anos e o encontro aconteceu em um baile de carnaval, promovido pelos pais dela. Depois de algum tempo de namoro, o casamento realizou-se em março de 1955. O casal teve seis filhos: Maria Lúcia, Vanda, Marineide, Tânia, Nereu e Cézar.
Segundo relatos o casal atravessou um momento de muita tristeza, quando Cezário teve varíola e precisou ficar 30 dias deitado e enrolado em folhas de bananeiras. A febre era muito alta deixando seu corpo em carne viva. Já em Dona Maria as “bexigas pretas” se manifestaram em menor número. Mas como estava grávida de oito meses, a doença atingiu a criança, que nasceu morta. Na época só puderam contar com a ajuda dos amigos pescadores, que não deixaram sua família perecer.

MISSÃO: SALVA-VIDAS
No início de dezembro de 1959, Cesário foi chamado pela Secretaria do Interior e Justiça (atual Secretaria de Segurança Pública do Estado) para atuar como guarda-vidas. A indicação partiu de seus colegas que já exerciam o cargo, por ser pescador destemido, conhecedor do mar, ter porte físico e boa saúde. Nesta época, esses profissionais eram subordinados ao delegado da Polícia Civil.
Cesário atendeu prontamente ao convite, tornando-se o quarto guarda-vidas de Matinhos. Ele desempenhou a função com comprometimento e presteza durante 17 anos onde realizou inúmeros casos de salvamento. Como pescador enfrentava mar bravo. Mas como guarda-vidas o serviço também era perigoso. Contudo, no tempo em que exerceu a função, durante seus expedientes, não pereceu uma vida sequer. Sendo um triunfo que carregou para o resto de sua vida.
Em 1979, passou a atuar na Delegacia de Matinhos, como agente de segurança. Após dois anos, foi remanejado para a Secretaria de Educação e Cultura, passando a prestar serviços no Colégio Gabriel de Lara como inspetor e responsável pela manutenção da instituição.

AMOR PELA PESCA
Seu Cesário era exemplo nesta profissão de quem travou uma luta diária com o mar em busca do pescado. Como ele sempre dizia “Meu amor pela pesca começou desde que tinha apenas oito anos e precisava ajudar minha mãe”.
Ele contava com orgulho que foi contribuinte da Colônia dos Pescadores por aproximadamente 40 anos e relatava vários fatos do tempo em que era pescador profissional. Com embarcação a remo, saía cedo com seus colegas de profissão para alto-mar. Eles só voltavam após várias horas em busca do produto do seu trabalho. Usavam uma vela confeccionada com três mastros e uns 10 ou 12 sacos de farinha. Com o vento do oceano soprando em direção à praia, ficava mais fácil direcionar o barco para o lugar almejado, a necessidade da pressa se dava, principalmente, porque o pescado precisava ser vendido no dia, pois não havia refrigeração.
Outro acontecimento que marcou a vida de Cesário foi uma grande pesca realizada em 1968. No qual o cardume era tão grande que em uma só ‘redada’ capturaram quase sete mil tainhas. No final daquele dia, contaram um total de 8200 peixes.
São muitas as histórias que foram contadas por esse simpático pescador, amante do mar e dos serviços prestados à comunidade de Matinhos.

Religioso, remetia a Deus tudo o que conquistou. Como ele mesmo relatava emocionado, “Só tenho a agradecer às pessoas que fizeram e fazem parte da minha vida. Considero-me um homem rico, porque tenho uma família unida e muitos amigos que fazem minha vida feliz”. Seu Cesário Agostinho da Silva faleceu no dia 17 de Outubro de 2013 e está sepultado no Cemitério Municipal de Matinhos.

Colaboração: Jornal da ACIMA - Associação Comercial e Industrial de Matinhos

Um comentário:

  1. Um homem abençoado que deixou muitos exemplos bons... Mas que também deixou muitas saudades!
    Camila - Gtba

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