No
Estado do Paraná existem atualmente três etnias indígenas: Guarani, Kaingang e
Xetá. A grande maioria vive nas 17 terras indígenas demarcadas pelo governo
federal, onde recebe assistência médica, odontológica e educação diferenciada bilíngue. A economia dessas comunidades indígenas baseia-se
na produção de roças de subsistência, pomares, criação de galinhas e porcos.
Para complementar a renda familiar, produzem e vendem artesanato como cestos,
balaios, arcos e flechas. Professores índios alfabetizam
as crianças na língua Guarani ou Kaingang, o que tem contribuído para a
valorização dos conhecimentos tradicionais e a consequente preservação da
identidade cultural. É grande a influência que o
paranaense recebeu desses grupos indígenas. Na culinária, além do consumo da
erva-mate fria ou quente, adotamos o costume de preparar alimentos com
mandioca, milho e pinhão, como o mingau, a pamonha e a paçoca.No vocabulário é
freqüente o uso de palavras de origem Guarani para designar nomes de espécies
nativas de frutas, vegetais e animais. Podemos citar como exemplos: guabiroba,
maracujá, butiá, capivara, jabuti, biguá, cutia. De origem Kaingang temos os
nomes de municípios como: Goioerê, Candói, Xambrê e Verê.
GUARANI
Os Guarani, grupo do tronco linguístico Tupi-Guarani,
dividem-se em três sub-grupos: Mbyá, Nhandéva e Kaiová. Identificam-se
mutuamente e mantêm laços de parentesco e afinidade com aldeias distantes, não
se limitando ao território nacional. Apesar da grande abrangência do seu
território (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) o sentido de identidade
entre os Guaranis tem se preservado através da manutenção da língua e da
cultura. Antes da colonização europeia e da consequente perda de parte de seus
territórios, os Guarani distribuíam-se desde o litoral estendendo-se às
florestas subtropicais do planalto, até o rio Paraná a oeste. Estabeleciam suas
aldeias geralmente em regiões de floresta tropical, fazendo clareiras na mata,
usando as áreas próximas para caça, coleta e agricultura. Permaneciam no mesmo local, entre cinco a seis
anos, até esgotarem os recursos naturais, sendo que depois do solo descansar e
a fauna se recompor, retornavam aquela área. Normalmente a aldeia compunha-se
de cinco a seis casas comunitárias, sem divisões internas, em cada qual viviam
de vinte a trinta pessoas. No centro da aldeia existia a
casa de rezas, onde eram realizadas as atividades rituais. No interior das habitações e nas áreas periféricas
da aldeia concentravam-se as atividades femininas relativas aos cuidados das
crianças e ao preparo dos alimentos. Desenvolveram uma cerâmica decorada,
confeccionando abundante quantidade de recipientes de argila queimada.
Fabricavam cestas e peças variadas, com fibras e taquaras, inclusive redes de
dormir e ainda fiavam algodão para confecção de peças de vestuário. Nos séculos
XVIII e XIX, os Guarani que habitavam o interior do Paraná, foram utilizados
como mão-de-obra servil na atividade pecuária, ou reunidos pelo Governo em
reservas indígenas denominadas aldeamentos. Muitos entretanto fugiam em direção
ao litoral, considerado local sagrado segundo a mitologia do grupo.
KAINGANG
KAINGANG
Os Kaingang pertencentes a família linguística Jê, preferiam habitar as regiões
de campos e florestas de Araucária angustifolia, onde tinham no pinhão sua
principal fonte de subsistência. Os territórios Kaingang compreendiam além das aldeias, extensas áreas, onde
estabeleciam acampamentos utilizados nas expedições de caça, pesca e coleta.
Faziam armadilhas de pesca denominadas pari com as quais obtinham grande
variedade de peixes. Esta forma de pesca tradicional ainda se mantêm entre os Kaingang
dos rios Tibagi e Ivaí. Cabia as mulheres o preparo da comida, os cuidados com
as crianças, a confecção de cerâmica e o plantio de roças nas proximidades da
aldeia, onde cultivavam milho, abóbora, feijão e mandioca. Constituíam uma sociedade dualista, dividida em metades clânicas Kamé e Kairu.
Esta forma de organização definia os papéis sociais e cerimonias de cada
indivíduo no grupo, estabelecendo regras quanto a nominação, casamento, pintura
corporal e a participação nas atividades rituais. O
principal ritual dos Kaingang é o culto aos mortos, denominado kikikoi, onde
todos participavam exibindo pintura corporal, rezando, cantando e dançando uma
coreografia inspirada no movimentos do tamanduá. Neste ritual as crianças são
pintadas pela primeira vez com desenhos circulares ou alongados,
identificando-se desta forma com a metade clânica a qual pertencem. No século XIX, a atividade tropeira e a conseqüente expansão das fazendas de
gado sobre os campos gerais, de Guarapuava e de Palmas, atingiu diretamente os
territórios tradicionalmente ocupados pelos Kaingang. Após violentos embates os
grupos que sobreviveram passaram a viver nos aldeamentos organizados pelo Governo.
No início do século XX, passaram a viver em reservas criadas pelo Serviço de
Proteção ao Índio -SPI, posteriormente denominado Fundação Nacional do Índio. Decorridos 500 anos de contato os Kaingang
preservam o seu idioma, possuem nomes indígenas e conhecem seu grupo clânico,
apesar de raramente utilizarem a pintura corporal.
XETÁ
Desde o final do século XIX, já existiam relatos sobre a presença de índios no
centro sul do Paraná, denominados Xetá. Este grupo indígena pertencente ao
tronco linguístico Tupi-Guarani, foi oficialmente contatado na década de 1950,
pelo Serviço de Proteção aos Índios, atual FUNAI, na região da serra dos Dourados
no noroeste do Paraná.Diversas expedições organizadas pela Universidade do
Paraná e pelo SPI, chefiadas pelo antropólogo José Loureiro Fernandes entraram
em contato com 60 indivíduos de um grupo maior de 200 pessoas, quando foram
realizados estudos linguísticos e da cultura material Xetá. O cineasta tcheco
Vladimir Kozák efetuou registros destes índios através de filmes, fotografias e
desenhos, os quais constituem acervo do Museu Paranaense. Considerado à época do contato como um povo que
vivia somente da caça e coleta, estudos mais recentes constataram que a
situação dos Xetá naquele momento, justificava-se pelos constantes
deslocamentos do grupo provocados pela expansão cafeeira. Da mesma forma, na
mitologia Xetá aparecem indícios de que no passado estes índios conheciam o
milho e a agricultura. Vítimas do extermínio gerado pela expansão cafeeira, os seis remanescentes Xetá
e seus descendentes anseiam por reunirem-se novamente em uma terra só deles. De
acordo com a Fundação Nacional do Índio, a Terra Indígena Xetá encontra-se
atualmente em processo de demarcação pelo governo federal.
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