A "Mi Casita", uma das primeiras casas de veraneio de Matinhos, localizada no calçadão do Pico (Praia Central) era de propriedade do Sr. Hildebrando César de Souza Araújo, que cumpriu uma longa trajetória desde a infância em Imbituva até os
sofisticados círculos sociais, empresariais e políticos do Paraná. Filho do
professor Júlio César e dona Manuela de Souza Araújo, Hildebrando e seus irmãos
Heráclides e Hostílio perderam o pai ainda crianças, o que não os impediu de
cumprirem vidas plenas e produtivas. O médico Heráclides percorreu o mundo em
trabalhos e pesquisas sobre a hanseníase, tornando-se reconhecido e famoso na
especialidade. Hostílio, advogado, desenvolveu brilhante carreira em São Paulo
e ocupou funções públicas importantes no governo do Estado do Paraná, entre
elas Diretor do Ensino, antiga denominação para Secretário Estadual da
Educação, e prefeito de Curitiba. O sucesso profissional dos irmãos tem
um pouco da mão do próprio Hildebrando. Altruísta, desprendido e preocupado com
o desenvolvimento humano, assim que sua renda permitiu, passou a ajudar os
irmãos financeiramente para que pudessem se dedicar aos estudos. Nas primeiras décadas do século passado, o cidadão verdadeiramente proeminente
era um generalista. Homem de seu tempo, Hildebrando de Araújo desenvolveu amplo
leque de interesses, atividades e responsabilidades. Foi, grosso modo nesta
ordem, funcionário, comerciante no varejo e no atacado, industrial, dono de
jornal, político e, durante toda a vida, amante das letras e das artes e
apaixonado polemista. Cada uma destas facetas reflete sua liderança natural e
sua extraordinária capacidade de combinar o intelecto privilegiado e bem
cultivado à facilidade no trato e no relacionamento pessoal. A perda do pai e o início humilde como ajudante num armazém de secos e molhados
foram exemplos de barreiras que, ao serem rompidas, impulsionaram Hildebrando
por toda a vida. Das vassouras e fardos de mercadorias, passou logo ao
atendimento aos fregueses. Cordial, afável, alegre e dono de excelente memória,
começou valiosas relações a partir do balcão da loja de Nicolau Farhat,
imigrante sírio respeitado na comunidade de Ipiranga, interior do Paraná.
As relações evoluíam na medida em que Hildebrando progredia. O patrão, bom
negociante, soube perceber os dotes de seu funcionário, oferecendo-lhe desafios
cada vez mais elevados e recompensando seus resultados. Graças às contribuições
ao negócio, Hildebrando passou a "interessado", termos da época para
o sócio nos dividendos. Anos depois, quando Farhat decidiu se retirar dos
negócios, Hildebrando comprou a parte do ex-patrão e mentor. A expansão
dos negócios foi um passo natural, ainda que não menos difícil. O empresário
interiorano passou a fazer compras nos grandes centros como Curitiba, São
Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Para remunerar seu investimento nesta
nova empreitada, Hildebrando agregou ao varejo a atividade atacadista, fornecendo
mercadorias a comerciantes amigos e colaborando com os "safristas" de
erva-mate. O relacionamento com os produtores de erva-mate propiciou seu
ingresso na indústria. Já casado com dona Leopoldina, decidiu se
instalar em Curitiba, e comprou um engenho de beneficiamento de mate,
estendendo seus interesses comerciais para a Argentina, onde formou boa
clientela. A orientação e a influência política do sogro ajudaram a pavimentar
o caminho de sua determinação. Ingressando na política, foi deputado por Ipiranga
por várias legislaturas até que a ditadura do Estado Novo interrompeu esta
trajetória. Sua liderança representava ameaça aos getulistas e Hildebrando de
Araújo foi detido incomunicável no presídio improvisado na Sociedade Garibaldi,
tendo seus bens interditados. Saúde, determinação e capacidade de trabalho
invejáveis impediram que o episódio o abalasse física, moral ou materialmente.
Sua atividade à frente do Diário da Tarde é exemplar de seu perfil como
empresário. Jornalista por vocação, sempre bem informado e com espírito
competitivo, comandava tudo, desde a manchete e o tom das edições, até a
distribuição, passando pela diagramação e pelo próprio funcionamento da
primeira grande rotativa instalada no Paraná. Hildebrando de Araújo era
um homem de origem simples e assim permaneceu por toda a vida. Dono de
vastíssima biblioteca numa das casas mais elegantes do sofisticado bairro do
Batel, tinha na garagem automóveis importados, especialmente dos Estados
Unidos. Sensível e culto, apreciava os espetáculos e a música erudita,
colecionava peças de arte, gostava da qualidade e vestia-se bem. Mesmo assim,
não se deixava levar pela moda, brincava acerca do preço de suas roupas e
sapatos e fez questão de que o pomar de seu quintal ficasse junto ao muro para
facilitar aos meninos da rua o acesso aos frutos. As
extraordinárias conquistas pessoais e materiais não fizeram Hildebrando de
Araújo mais apegado a seu status e a seu patrimônio. Ao contrário, o
conhecimento da realidade dos que se iniciam na vida profissional em
desvantagem fez dele um dos grandes investidores na capacitação profissional de
jovens carentes. Sem filhos para dar continuidade ao seu trabalho, Hildebrando
e Leopoldina criaram e legaram à fundação Hildebrando de Araújo boa parte de
seu patrimônio e a tarefa de administrá-lo, destinando a renda obtida para o
investimento em projetos nas áreas de educação e capacitação. Foi um dos
primeiros homens “da capital” a ter casa de veraneio em Matinhos, a famosa “Mi
Casita”, construída na década de 40 e existente até os momentos atuais. Uma grande contribuição do Sr. Hildebrando foi a doação do terreno de sua propriedade ao município para que se fizesse a Praça Central, existente até hoje.
Fonte: http://www.fundacaohildebrando.org.br/biografia.php
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