Dona Gigi Bonatto foi uma
daquelas personalidades que fez questão de não apenas passar, mas deixar marcas
por onde passou... Matinhense de nascimento, de luta e, principalmente, de
coração; escreveu um livro com suas fantásticas memórias sobre a vida que por
aqui "marcou". Abaixo o texto de apresentação onde seus filhos,
lindamente, mostram quem foi a excepcional mulher matinhense, Gigi Bonatto:
"Escrevia no quadro-negro de uma pequena escola pública de
Matinhos, em letras grandes e dizia a seus novos alunos:
- JOCELINA, este é meu nome.
Imediatamente um dos alunos erguia as mãos e argumentava:
- Minha mãe me disse que o nome da minha professora seria Dona Gigi.
- Então pra vocês eu serei a Dona Gigi.
E esse fato se repetia a cada ano. Na nossa pequena cidade dificilmente
alguém que não fosse um parente ou um amigo muito próximo saberia dizer qual
era o seu verdadeiro nome. Pra que mais que Gigi? Simples o nome, e mais, ainda
a portadora. Não tinha porque ser diferente. Nasceu num lugar onde não havia
nada que lembrasse luxo, num caloroso mês de janeiro. Filha de lavradores,
primogênita numa lista de doze filhos que tiveram Etelvina e Alexandre. Por
curiosidade e esperteza aprendeu o bê-a-bá em casa, antes mesmo que fosse
levada à escola isolada, como eram chamadas as escolas que se subordinavam às
ordens de Paranaguá.
Ainda criança ficou muito doente, cujo mal não havia quem tratasse em
Matinhos. Foi levada para Curitiba, por turistas que frequentavam o balneário e
por lá ficou durante parte de sua mocidade. Em Curitiba foi mais Gata
Borralheira que Cinderela, mas soube tirar lições que trouxe consigo pelo resto
da vida e pôde passar para todos aqueles que viveram ao seu redor. Cada pedaço
de papel escrito tinha para ela a importância de um livro. Cada filme que
assistia tinha o poder de horas de terapia. Cada vestido, cada sapato, cada
corte de cabelo, cada comida, eram verdadeiras aulas de boas maneiras. Cada
discussão que presenciava tinha o valor de uma aula.
Quando retornou estava curada e se sentia preparada para a vida. Sabia
exatamente o que queria para si e para seus entes queridos. Mudou o rumo de
vida de muita gente sem fazer escarcéu. Teve importância fundamental na vida de
seus pais e de seus irmãos. Como professora atuou bravamente nos rumos da educação
da nossa cidade. Como funcionária pública municipal, até hoje é lembrada como
exemplo de capacidade e dedicação.
Casou-se com Alberto já falecido, aí nasceram os filhos Alberto Jr,
Silmara e Hamilton que casaram com Rachel, Raul e Vivian, que tiveram Caio,
Igor, Juan, Pedro, Saulo, Tamires e Raísa. E, como a família ainda não estava
completa, vieram também como filhos João e Simone. Nós. Nós que buscamos a cada
minuto de nossas vidas fazer jus ao amor recebido, reconhecer o sacrifício que
foi feito para que um dia nos tornássemos seres dignos da família que para nós foi
construída, cidadãos honrados num país onde a moral e a ética estão na
berlinda, pais conscientes da missão que Deus lhes deu.
Gigi. Só Gigi. Pra que mais simples que isso? Precisa ser mais do que
simples numa vida que estamos somente de passagem? Precisa esquecer do Tabuleiro,
onde tudo começou, apesar de ter conhecido o Brasil e alguma outra parte do
mundo? Precisa negar os pés descalços, a boneca de celulóide, o aimpim com café
e batata-doce, a esteira em que dormia e o travesseiro de marcela apesar de ter
tido a chance de andar de saltos altos, de ter vivido na era das bonecas que
falam e andam, de ter saboreado maravilhosos manjares e dormido em colchões e
travesseiro modernos?
Esta era a Gigi. Nossa mãe. Simplesmente uma mulher, determinada, exigente,
inteligente, forte, reconhecida e com um dom em poucos encontrado, o de perdoar
e muito perdoou.
As lembranças anotadas dizem mais do que podemos e a ela oferecemos
aquilo que mais lhe alegrava os olhos: nosso amor e uma flor, simplesmente amor
e flor.
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